De volta ao começo

Sérgio Matos: "Milão é um marco na minha história profissional". (Foto: Thayse Gomes)

Respiro os ares de Milão. Em mais uma Design Week a sensação é de leveza, conforto e acolhimento. Desta vez é como voltar à casa e abraçar memórias, mergulhar no tempo e na atmosfera mágica que embala todo princípio de sonho. Rebobino a minha trajetória profissional. Faço um percurso inverso onde o passado, astuto, ainda é capaz de desembrulhar todas as novidades e emoções que consolidam o presente. Me detenho numa parada obrigatória: o Salão Satélite. Nele, orbita a minha largada e o traçado de uma história que começou a ganhar contornos há sete anos. Foi meu cartão de visitas. A convite da diretora Marva Griffin tomei lugar no espaço seleto dedicado ao talento dos jovens designers dos cinco continentes. Quem poderia, em início de carreira, desejar mais?
Agora, quando o Salão Satélite celebra 20 anos, uma mostra comemorativa na Fabrica Del Vapore reúne designers por ele projetados e apresentados ao mundo do Design. Cá estou entre os escolhidos, como filho pródigo que à casa torna. É uma honraria ser parte integrante desta edição comemorativa e dividir a mesma exposição ao lado de nomes que têm a minha admiração e respeito. Cada detalhe tem sabor de premiação pela insistência de acreditar e de concretizar sonhos. O Banco Ianomâmi volta à cena, como se nunca dela tivesse ficado ausente. Faz sala com o Tapete Marakatu (desenvolvido com exclusividade para a By Kamy) e a Cadeira Pirarucu, de trama artesanal ainda fresca para o lançamento. O fio da cultura que tomei como matéria-prima ata cada peça.
É o mesmo fio de urdidura das peças que estão no Brazil S/A, na simbólica Universitá Degli Studi Di Milano, e na exposição “Brasile Meticcio”. Outro presente que Milão me reserva, com endereço na Galleria Paola Colombari. Com curadoria e expertise de Paola Colomabari em colaboração com Neia Paz, a mostra expõe através do design com minha assinatura o Brasil de dimensão continental e multicultural. Convida à imersão na formação social que reside na mistura de povos e desdobra-se em tons de pele, enlace de línguas, dialetos, saberes ancestrais e costumes. Um Brasil mestiço. De indígenas, europeus e afrodescendentes que estruturam a matriz da nação com características únicas, oriundas da fusão das referências identitárias. O feito à mão é a digital que valoriza os ofícios herdados dos antepassados. Cada produto narra história, resgata memória e celebra laços de pertencimentos. Design com a aura da mestiçagem que carrego. Para os olhos de Milão e do mundo. Sou grato por estar aqui e agora.