A força do feminino na floresta

Sigo navegando no Projeto Brasil Original Amazonas.
Rosa Ayambo, da etnia Tikuna no Amazonas: artesã e guardiã da floresta.

Sigo navegando no Projeto Brasil Original Amazonas. Ao fim de cada viagem repito o mesmo rito: desfaço bagagem, guardo aprendizados, arrumo memórias e desato reflexões sobre minhas andanças. Ainda tenho em mente o curso do Rio Solimões que recentemente me levou à cidade de Benjamin Constant. Na tríplice fronteira onde Brasil, Peru e Colômbia se confundem em linhas tênues da geografia, vi como estas nações se encontram sob o mesmo manto verde da Floresta Amazônica. Imponente, é o ponto de convergência que abriga o vigor e poder da natureza. É também, casa e fortaleza de mulheres guerreiras que com sabedoria ancestral tiram dela o sustento, a matéria-prima para o artesanato e acalantam sonhos com a mesma resistência das tradições e mitos que se propagam entre as gerações.

A mais de 1.100 quilômetros de Manaus – depois de percorrer outras etapas do projeto pelo Alto Rio Negro – descobri que a floresta é habitada por verdadeiras divindades. Entre elas, Dona Rosa Ayambo, indígena da etnia Tikuna que vive na Comunidade de Porto Cordeirinho, em Benjamin Constant. Ela que afetuosamente presenteou a mim e a equipe do Sebrae Amazonas com um canto de boas-vinda, nos estendeu os braços, alargou o sorriso, apresentou as trilhas materiais e imateriais que conduzem às riquezas encerradas naquele território sagrado. Como conter a emoção diante de tanta generosidade? Impossível não se deixar hipnotizar e surpreender ante a alegria de alguém que aos 87 anos acorda às 5h da manhã para desbravar a floresta, cortar a fibra de arumã (palmeira alta e de difícil acesso) e retornar à casa no início da noite. Sou grato por estas lições, pela oportunidade de vivenciar cada detalhe destas experiências.

Fazendo este percurso onde design e artesanato se entrelaçam sob a aura da cultura original, percebo como a força do feminino marca a organização destas comunidades, semeia a essência da delicadeza e cultiva o respeito em conexão com a floresta. Elas atendem por Rosa, Neusa, Clementina. São de Benjamin Constant e Atalaia do Norte. Guardam a ancestralidade das suas etnias Tikuna, Marubo e Kanamary e acreditam na manutenção dos ritos e na força do trabalho. Usam cocares e pinturas corporais como símbolos de identidade e orgulham-se das técnicas ancestrais e do exotismo do feito à mão. São “amazonas”, guerreiras filhas da Terra e da Lua, retratos de um Brasil Original. Sou “curumim” e tenho muito a aprender com elas.